22/02/2015

O Nosso Triste Adeus!


Você ia me dar aulas de direção, passei dias pensando nisso, como ia ser legal finalmente aprender a dirigir.

Era um domingo, o primeiro dia da semana, meu dia favorito. Quando cheguei a sua casa você me mostrou fotos nossas bem antigas, eu pensei “nossa, o tempo melhorou para mim, em você ele conservou sua beleza!”.

Depois, sentamos na sala para conversar, comecei a perguntar sobre sua viagem, você ficou surpreso, sabe que detesto sua profissão e não falamos sobre isso, pois sempre deixei bem claro.

Perguntei quando ia à África, mas você permaneceu em silêncio e respirou fundo, tive certeza que havia algo estranho:

– Está me escondendo alguma coisa?

–Não, mas em breve te farei uma surpresa!

Surpresa? Vi que tentou mudar de assunto, fingir que estava tudo bem, mas eu não podia esperar mais para isso.

– Para de tentar mudar de assunto! O que está escondendo? Seja o que for, eu quero saber agora!

– E as aulas de direção?

– Elas podem esperar! Fala logo! Odeio esses rodeios! É sobre a viagem?

– Sim. Eu ia te contar no dia do seu aniversário, ia ser seu presente! Eu não vou mais morar lá, vou ficar com você!

– O quê?

– A África não nos separa mais, nem a minha profissão!

– Hã? – Eu congelei.

–Meu amor, você disse que jamais casaria comigo por causa da minha profissão, estou abrindo mão dela.

– E sua família?

– Eles já sabem e me apoiam.

– Não, não! – Eu balançava a cabeça feito louca. – Como? Por quê?

– Porque eu te amo!

– Você não parou para pensar no que vai fazer da vida?

– Minha vida é você! Tudo que eu quero é você comigo! Não importa o que eu vou fazer, farei concursos, trabalharei no que for preciso, venderei cachorro-quente na praia, se for preciso, você adora cachorro-quente.

–Você ficou louco? Seu sonho sempre foi ir à África, passar dois anos lá, trabalhar no que gosta. Não pode abrir mão dos seus sonhos!

– Você é meu sonho! É você quem eu quero! Nada mais importa!

– Você surtou ou se drogou? Ju, para de loucura?

– Não é loucura!

– Daqui há seis meses você mudará de ideia.

– Impossível, quando penso em onde quero estar num domingo daqui a seis meses, penso em alguma Igreja, participando de uma Missa com você.

Então a ficha caiu, você tinha falado muito sobre coisas da Igreja, como não me dei conta? 

Isso me desconcertou, não tinha mais argumentos, mas precisava dizer alguma coisa:

– Acha que eu abriria mão de alguma coisa por você?

– Não estou pedindo nem pedirei nunca!

– Esse é o problema, não posso condená-lo a fazer isso: abrir mão dos seus sonhos por mim. Não vale a pena!

– Tudo que eu quero é ficar do seu lado!

– Você enlouqueceu? Sabe, eu sempre ouvir falar que os homens tem metas, planos, mas você não, você tem sonhos! E não posso permitir que abra mão dos seus sonhos por mim!

– Eu não estou te pedindo nada em troca.

–Quem sabia disso aqui na sua casa?

– Minha família inteira: meus pais, meu irmão, minha cunhada.

– Aposto que eles foram todos contra.

– Não, meu pai me apoiou, minha mãe ficou feliz por finalmente saber que ficaremos juntos depois de tantos anos.

Odiei sua família por dois segundos, quem apoiaria um filho numa loucura dessas? O mais sensato é surtar, tirar essa ideia da cabeça, eles pagaram faculdade cara, traçaram metas para o filho, e agora ele vai largar tudo por uma maluca que sempre esnobou ele e nem sequer tem um futuro garantido?

– Eu nunca disse que te levaria comigo, eu nunca disse que queria que fosse comigo. Aliás, não quero que vá. Um dos motivos de ter aproveitado cada detalhe dos nossos encontros foi esse: sabia que não seria para sempre!

– Eu te amo!

– Então arranque esse maldito amor do seu peito!

– Sua amiga te contou, não foi?

– Quem? Quem sabia?

Não precisava de uma resposta, a única pessoa a qual chamo de amiga nesse momento e você também está há quilômetros de distância daqui.

– Ela sabia de tudo isso?

– Foi ela quem me sugeriu que te contasse no dia do seu aniversário.

– Adeus Ju!

Mas, nessa hora, você levantou e me puxou para seus braços chorando, implorando que eu não fosse. É óbvio que minhas lágrimas começaram a cair fortemente sobre meu rosto.

– Não vai, por favor, não me deixe!

– Me deixa ir, Ju!

– Não, porque você não quer ir.

Ele estava certo, eu não queria ir, queria ficar ali para sempre. Me soltei de seus braços e saí, não me sentia bem, eu podia desmaiar a qualquer hora. Ele então segurou meu braço e falou que me deixaria em casa.

– Ok! Mas, antes preciso te dizer algo... – Não sei como consegui dizer o que tinha a dizer, mas deixei as palavras saírem.

– E as aulas de direção?

– Esquece, não era para ser.

Durante o caminho, você só chorava. Eu me perguntei se fiz bem em deixar que dirigisse nesse estado, mas correu tudo bem. Quando parou o carro, me apressei em descer, mas você me segurou pelo braço:

– Pensa bem, desiste dessa loucura, me deixa ficar do seu lado.

Minhas lágrimas ainda escorriam assim como as suas, mas não havia como permitir isso.

– Não, obrigada por tudo, pelo seu amor, pelo seu carinho, por ser tão fiel e leal a mim. Mas acabou, adeus!

– Um último beijo, para que eu possa lembrar do sabor dos seus lábios para sempre!

– Não, é melhor não!

Desci do carro ainda chorando, mas não olhei para trás.

Deixei ali o homem que sempre me amou, acho que o único que me amou de verdade.

Sempre lembrarei de você com carinho e respeito. Sei que muitos mal-entendidos nos distanciaram, todo ódio que senti por você um dia, teria sido evitado com uma conversa, e hoje, me deu a maior prova de amor de todas.

Aliás, você nunca teve medo de gritar ao mundo o que sentia por mim, não se calou diante de ninguém, nem mesmo quando devia se calar por segundos, me defendeu quando nem mesmo merecia ser defesa.

Você me escutou mesmo quando minhas palavras te causavam dor e sofrimento, sempre imparcial e parcial por mim. Te desejo apenas que seja feliz e que seja plena essa felicidade, que seu sorriso seja de orelha a orelha, e NUNCA, NUNCA MESMO DESISTA DOS SEUS SONHOS!

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