“A
beleza dolorida é dos mais patéticos espetáculos que a natureza e afortuna
podem oferecer à contemplação do homem. Helena torcia-se no leito como se todos
os ventos do infortúnio se houvessem desencadeado sobre ela. Em vão tentava
abafar os soluços, cravando os dentes no travesseiro. Gemia, intercortava o
pranto com exclamações soltas, enrolava no pescoço os cabelos deslaçados pela
violência da aflição, buscando na morte o mais pronto dos remédios. Colérica,
rompeu com as mãos o corpinho do vestido; e o jovem seio, livre de sua casta
prisão, pôde a larga desafogar-se dos suspiros que o enchiam. Chorou muito,
chorou todas as lágrimas poupadas durante aqueles meses plácidos e felizes,
leite da alma com que fez calar a pouco e pouco os vagidos de sua dor”.
(Helena
– Machado de Assis, pág. 67)
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