25/07/2016

“Estou em casa.
Sento-me aqui, na escada dos fundos da minha mente, enquanto a cidade se levanta em direção ao horizonte, como sempre.
Nasce a luz do dia, o inverno vai morrendo, e a fome cresce dentro de mim.
A máquina de escrever aguarda...
Penso agora nas bordas das palavras, na lealdade do sangue, nas música das meninas, nas mãos dos irmãos e em cães famintos que uivam pela noite.
Há inúmeros momentos a serem lembrados, e às vezes acho que não somos pessoas, na verdade. Talvez sejamos momentos.
Momentos de fraqueza, de força.
Momentos de salvação, de tudo.
Vaguei pela vida real e me escrevi pela escuridão das ruas dentro de mim. Vejo pessoas andando pela cidade e me pergunto onde estiveram, e o que os momentos de suas vidas fizeram com elas. Se são parecidas comigo, seus momentos sustentaram e as derrubaram.
Às vezes, apenas sobrevivo.
Mas, às vezes, ergo-me no telhado da minha existência, de braços abertos, pedindo mais.
É então que as histórias aparecem em mim.
Elas sempre me encontram.
São feitas de perdedores e lutadores. São feitas de fome e desejo e de tentativas de levar uma vida digna.
O único problema é que não sei qual dessas histórias vem primeiro.
Talvez todas se fundam em uma só.
Veremos, acho.
Eu aviso quando decidir”.

(A Garota que Eu quero – Markus Zusak, págs. 173 e 174)

Nenhum comentário:

Postar um comentário