“Estou
em casa.
Sento-me
aqui, na escada dos fundos da minha mente, enquanto a cidade se levanta em
direção ao horizonte, como sempre.
Nasce
a luz do dia, o inverno vai morrendo, e a fome cresce dentro de mim.
A
máquina de escrever aguarda...
Penso
agora nas bordas das palavras, na lealdade do sangue, nas música das meninas,
nas mãos dos irmãos e em cães famintos que uivam pela noite.
Há
inúmeros momentos a serem lembrados, e às vezes acho que não somos pessoas, na
verdade. Talvez sejamos momentos.
Momentos
de fraqueza, de força.
Momentos
de salvação, de tudo.
Vaguei
pela vida real e me escrevi pela escuridão das ruas dentro de mim. Vejo pessoas
andando pela cidade e me pergunto onde estiveram, e o que os momentos de suas
vidas fizeram com elas. Se são parecidas comigo, seus momentos sustentaram e as
derrubaram.
Às
vezes, apenas sobrevivo.
Mas,
às vezes, ergo-me no telhado da minha existência, de braços abertos, pedindo
mais.
É
então que as histórias aparecem em mim.
Elas
sempre me encontram.
São
feitas de perdedores e lutadores. São feitas de fome e desejo e de tentativas
de levar uma vida digna.
O
único problema é que não sei qual dessas histórias vem primeiro.
Talvez
todas se fundam em uma só.
Veremos,
acho.
Eu
aviso quando decidir”.
(A
Garota que Eu quero – Markus Zusak, págs. 173 e 174)
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