“–
Gosto dos fios. Sempre gostei. Porque é exatamente assim que eu me sinto. No entanto,
acho que eles fazem a dor parecer mais fatal do que realmente é. Não somos tão
frágeis quanto os fios nos fariam acreditar. E gosto da relva também. Foi ela
que me trouxe até você, que me ajudou a imaginá-lo como uma pessoa de verdade. Mas
não somos brotos diferentes da mesma planta. Eu não consigo ser você. Você não
consegue ser eu. Por mais que você imagine o outro, nunca o imaginará com
perfeição, não é?
‘Talvez
seja mais como o que você falou antes, rachaduras em todos nós. Como se cada um
tivesse começado como um navio inteiramente à prova d’água. Mas as coisas vão
acontecendo... as pessoas se vão, ou deixam de nos amar, ou não nos entendem,
ou nós não as entendemos... e nós perdemos, erramos, magoamos uns aos outros. E
o navio começa a rachar em determinados lugares. E então, quando o navio racha,
o final é inevitável. Quando começa a chover dentro do Osprey, ele nunca vai
voltar a ser o que era. Mas ainda há um tempo entre o momento em que as
rachaduras começam a se abrir e o momento em que nós nos rompemos por completo.
E é nesse intervalo que conseguimos enxergar uns aos outros, porque vemos além
de nós mesmos, através de nossas rachaduras, e vemos dentro dos outros através
das rachaduras deles. Quando foi que nos olhamos cara a cara? Não até que você
tivesse visto através das minhas rachaduras, e eu, das suas. Antes disso,
estávamos apenas observando a ideia que fazíamos um do outro, tipo olhando para
sua persiana sem nunca enxergar o quarto lá dentro. Mas, uma vez que o navio se
racha, a luz consegue entrar. E a luz consegue sair’”.
(Cidades
de Papel – John Green, pág. 357 e 358)
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