“Lá
estava eu, olhando para meu aparelho, minha extensão com wifi e perguntando para não ouvir respostas: ‘Posso viver sem você?’.
Sou meio dramática, do tipo que ensaia caras na frente do espelho e, com um
frasco de desodorante, consegue-se imaginar apresentando um programa de
auditório na Rede Globo, enxergando gente nos travesseiros e almofadas e
ouvindo o retorno da plateia. Não é loucura, eu acho, é somente uma imaginação
bem-disposta, eu diria, pois, com toda essa imaginação, eu conseguia ver os
olhinhos do meu IPhone se fechando
tristemente e fazendo um beicinho, como quem se ofende com a mais remota
possibilidade. Era dezembro de 2013, e eu o tinha há tempo demais para imaginar
ficar sem ele. E quanto às fotos mais idiotas que nos aparece no dia-a-dia? E a
busca por um bom restaurante no aplicativo? E como me achar depois de me perder
sem o mapa, sempre pronto a me ajudar? E falar com os amigos cara a cara? E fazer
o serviço bancário? E contar minhas calorias; e correr sem competir; e tratar
minhas fotos triviais; as redes sociais e sua onipresença? Será que eu me
sentiria sozinha?”.
(Confissões
de uma Viciada em Internet – Fabiana Bertotti, pág. 105)
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